JUAN DE PAREJA TEMÁTICA Velásquez parte, pela segunda vez, à Itália, em novembro de 1648. Seu cargo de Aposentador Maior do Palácio implicava ocupar-se da decoração dos aposentos reais. Esta viagem tinha como finalidade adquirir obras de arte para as coleções de Filipe IV. Esta tela foi realizada neste período, por volta de 1649. O protagonista é um antigo escravo seu, amigo e discípulo do sevilhano. A crítica tradicional considerou que esta magistral obra tinha como finalidade preparar os trabalhos para o retrato do papa Inocêncio X. Na atualidade, os especialistas consideram que as intenções do artista eram bem diferentes. Sabe-se que este quadro foi exposto publicamente no Largo do Panteão. É bastante provável que o artista desejasse dar-se a conhecer entre a elite social e artística romana, a fim de ingressar na Academia de São Lucas. E assim sucederia. O mestre percebeu que subira um degrau mais na promoção social. ANÁLISE TÉCNICA E ESTILÍSTICA O modelo aparece representado de meio corpo sobre um fundo totalmente neutro. Este personagem adota uma postura de meio perfil, girando levemente o rosto para o espectador. Seu olhar lateral acompanha a cabeça em seu movimento. Trata-se de um olhar inteligente e interrogador. O mestre sevilhano se concentra de forma clara na expressão do retratado. Preferiu-se prescindir de elementos acessório a favor de um estilo marcado por uma grande austeridade de recursos técnicos e estilísticos. Isso não é obstáculo para a consecução de uma imagem extraordinariamente expressiva. O cabelo e a indumentária do homem recebem um tratamento sóbrio. A pincelada omite possíveis detalhes da qualidade das rendas e dos tecidos. O traço não mostra a precisão escultórica de suas obras juvenis. Tende a diluir-se e a tornar-se mais livre. A gama cromática é bastante austera. Os negros e pardos contrastam com a pele do homem e com a renda do pescoço. A luz recai sobre o rosto do criado, jogando com o claro-escuro para ressaltar suas feições. O resultado final é simplesmente magnífico. INTERPRETAÇÃO Velásquez pintaria um bom número de retratos durante uma segunda estada em Roma. Suas ambições sociais e profissionais levam-no a trabalhar para a nobreza e para o alto clero da cidade pontifícia. A imagem de Juan de Pareja é o resultado de suas inquietações pessoais. Ele desejava dar-se a conhecer entre os círculos intelectuais e artísticos que ditavam as pautas estéticas da Europa do momento. A obra teve grande aceitação entre a elite cultural romana. Isso supôs para o mestre sevilhano seu ingresso na Academia de São Lucas. Proporcionar-lhe-ia também uma das encomendas mais decisivas e extraordinárias. Trata-se do retrato de Inocêncio X, realizado pelo artista pouco tempo depois de ter elaborado a imagem de seu servo e discípulo. Do ponto de vista do estilo há que se destacar um claro exercício de síntese técnica. A simplicidade e a austeridade de recursos não diminuem a alta qualidade de sua feitura. A expressão do personagem torna-se o principal protagonista. O acessório e os detalhes se suprimem. A pincelada perde precisão a favor de uma maior liberdade do traçado.